sábado, 27 de dezembro de 2008

Esquecer


É bom esquecer
Ser louca,às vezes,e contrariar
Ser inconsequente para abstrair
É bom esquecer que um dia iremos sofrer de novo
E que isso é inevitável

É bom ser doido para não lembrar dos momentos intensos da vida
Para não lembrar que o amanhã virá
Ou melhor,já está vindo
Para esquecer que o tempo passa e nem sempre dá chances
Para esquecer de tudo o que consideramos injusto
E até daquilo que somos

As vezes,é bom não pensar
Apenas deixar que a mãe natureza faça o seu trabalho,deixando fluir todas as nossas emoções

Não precisamos de aprovação,mas apenas de paz
Uma paz que evolui e propaga
Doar amor por doar e sem pedir nada em troca

Por isso,vamos esquecer essa idéia de mudar
Ser o que somos sem medo
Sem medo do futuro
Sem medo de enfrentar a vida
Esquecer o medo que nunca me esquece e que me faz frágil
Viver o agora e confiar mais em nós mesmos

Será que é bom esquecer sem esquecer?
Porque não consigo
Já me esqueceram há tempos,eu sei
Mas eu não esqueço,apenas vivo

O amor e a arte me movimentam
E é só assim que me lembro que esquecer é bom
E que não esquecer também pode ser bom
Sou sentimento e expressão
E é dessa forma que me sinto viva
Me sinto o que sou

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Íntimo Habitat


O íntimo quer se encontrar
Ziguezagueando por tentativas
Experimentando o mundo
O ser se confunde

Morada
A alma quer se identificar
Achar seu habitat acolhedor
Aconchegante entreter

E desfrutando desse privilégio
Ser profundo e sereno
Alegre e sincero
Autêntico e corajoso

Que a espontaneidade seja cultivada
Que as oportunidades sejam dadas
Potenciais ativados
Emoções liberadas
Fluxo de energia equilibrado

Mundo produtivo
Pessoas realizadas
Belos frutos desse encontro
Paz

A verdadeira obra


Faz brotar em nós a sensibilidade
Torna as palavras vivas em um cenário rico
Quanta emoção em teus personagens
Sutileza e beleza
Risos e interior

Faz vibrar o sentimento
Interpretação e musicalidade
O furor da juventude expresso em arte
Literatura de qualidade

O revertério do rock e do som clássico
União perfeita
Pulsando...
O drama e o mistério
A vida expressa em talento

Assim é a verdadeira obra
Nada a perder
Tudo a ganhar gratuitamente
A arte pela arte
É pura sensação

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Colcha de retalhos


Em um emaranhado de ontem e de amanhã
Reconheço-me no hoje
E como um colcha de retalhos
Vou juntando e reorganizando as partes da história de uma vida

Cada pedacinho faz uma lembrança
Reconstruindo...
E o que fui ainda se confunde com o que sou
Como se todos os elementos formassem um único pano

De cada experiência fica um retalho
Um resto que é incorporado
Pode ser producente ou não
Recado processado e costurado

Assim é a nossa unidade
Diversa e unida
Permanente e mutante
Aprendida e reciclada

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Doce brincar


Escorregando em uma calda de morango
Os irmãos gêmeos brincam
Deslizando até cair em uma deliciosa piscina de marshmallow

Fazendo guerra de bolinhas de beijinho
O menino e a menina se tornam amigos
E crescem os fios de ovos desse amor fraterno

Esse doce brincar
Nos faz lembrar de levar a vida leve
Não se aborrecer tanto com os problemas
Porque o impossível pode não ser o impossível

Observando essa fantasia de infância
Voltamos a acreditar nos sonhos de meninos
Em que chove até granulado de brigadeiro
Enquanto os irmãozinhos viajam sobre nuvens de suspiro

O homem cheio de si


O homem da casa azul vivia sozinho
Se aprofundando em pensamentos sobre a sua própria existência
Observando as pessoas que,para ele, pareciam levar uma vida muito superficial

A mente do senhor exigia que ele buscasse sempre mais
Ir além da aparência
Não aceitar o supérfluo

O homem foi ficando um pouco fútil
Cansado de si
E a fim de fugir do seu conflito
Ele bebia e ficava a dizer bobagens

Assim,a vida passava mais rapidamente
E ele não precisava pensar tanto para não concluir nada
Dar voltas e voltas e parar no mesmo lugar
Com aquela sensação estranha de mesmismo
Enjoado da sua própria personalidade
Cheio de si

Expandindo fronteiras,o senhor foi aprendendo a ser mais leve
No contato com o outro, tornou-se mais flexível e equilibrado
E,até,os vizinhos,que o consideravam rabugento,agora,o percebiam como um homem em paz
Esvaziou-se um pouco
Substituindo as pedras pesadas e duras por algumas mais leves

A busca de Maria


Maria quer ser psicóloga
Mas,com o passar dos anos,descobre que não é nada bom ficar o dia todo ouvindo as questões alheias

Maria descobre sua vocação artística
Entretando,ela começa a sentir que é duro dedicar-se a arte e não ser reconhecida pelo seu trabalho
Não poder viver do seu ofício
A jovem,agora,não está satisfeita porque precisa ser independente

Então,decide fazer um curso de Engenharia
No entanto,odeia matemática
A moça se depara com uma série de dificuldades

Ela decide continuar suas tentativas pelo mundo das artes
E não abandona a sua engenharia
No entanto,a garota nunca se sente satisfeita
Está sempre buscando

Maria descobriu que as coisas na vida,muitas vezes não são, exatamente, como desejamos
E,talvez,nunca fossem
Então,ela seguiu com os seus objetivos
Aprendendo a apreciar mais a sua vida do jeito que ela é

Encontrou um amor e um emprego
Todas as férias ela viaja para um canto do mundo
Agora,se sente mais plena e feliz
Tocando piano e comendo sorvete

A rapariga não quer perder a sua espontaneidade
Descobriu que tem muito o que aprender com a simplicidade da vida
A vida é complicada e confusa para a moça
E,por isso,ela prefere viver do singelo que se esconde em seu nome

Percebe que a pessoa não é uma profissão
Apenas esposa ou engenheira
O ser de Maria é solto
Ela gosta de correr pelo jardim e de ler mitologia

E,assim, ela vive cada momento
Sem compromisso com rótulos
Entre o poder e o querer
Porém,mais conformada e satisfeita
Convencida dos seus limites e da sua constante e perene busca

O Divino


Na convicção de um idealista
Na persistência de um revolucionário
Na paixão de um artista por seu ofício
Na sanidade de um louco
Nos paradoxos da vida
Nos tropeços e reconstruções
Na lógica dessa energia cósmica
Permeando...
Por entre espaços que nunca acabam
O Divino
Denominações humanas para o irracional
Necessitando de um suporte para nossos sentimentos
Não importando como e nem de que forma
Continuamos te procurando

domingo, 21 de dezembro de 2008

Amor de desenho japonês


O amor da nossa fantasia se faz real em um desenho japonês
E ficamos imaginando como nos faríamos serenos perto desse afeto
Quando encontramos alguém que nos faça realmente vibrar de emoção
E as pessoas, que nunca enxergaram o teu valor,agora,não fazem mais a menor diferença

Como uma princesa de um filme,o herói te carrega no colo
E o rapaz, com quem todos implicavam, está feliz
O cenário é lindo
Eles namoram em um recanto proibido nos dias de hoje
Tudo te faz chorar

Assim são essas historinhas da criação
Que para tornar a realidade menos rigorosa
Nos fazem viajar na ficção
E quando o herói salva a moça de verdade
Percebemos que a realidade,às vezes,pode também não ser tão rude
Podemos descobrir que também existem encantos na imperfeição da vida

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Amigas inseparáveis


É esssencial que possamos sentir falta daquelas tardes a fazer trabalhos de colégio
Quando nossas mãos infantis e ingênuas se uniam naquele amor tão inocente

Não sabíamos que a vida,mesmo prevenida de feridas,poderia se machucar
E que a distância,possivelmente,nos separaria daquele sentimento puro
E nem que as pessoas se esqueceriam,com tanta frequência, daquele recado
Não conhecíamos as imperfeições do mundo
Mas apenas aquele doce amor de amigas inseparáveis

Porém,o amor tem muitas faces
E a mais sublime delas é aquela que não se vê
É a que se esconde no peito em um silêncio generoso e sincero

E essas amizades nos ajudam a descobrir quem somos
Pois no afeto verdadeiro, não há arrependimento do amor doado
Não há ficção,artifícios,máscaras ou jogos

O orgulho nos impede de enxergar o essencial
E é assim que conseguimos ser nós mesmos
Naquela época,amiga,sabíamos o que era vital
E esse deveria continuar a ser o nosso objetivo de vida
Porque como o inocente a quem todos culpam
É no amor ,que não veste aparências, onde se esconde a maior riqueza

domingo, 14 de dezembro de 2008

Entre sons e folhas


Voando sobre uma pétala de flor
O garoto filosofava a vida
E enquanto toda a casa se entretia
E todos aqueles conflitos aconteciam ao seu redor
O garoto João vivia através do som de sua flauta,que comprara com seus próprios trocados,em uma ida à cidade
E era assim que ele se comunicava com os pássaros

Procurando sentidos,o garoto subia nas árvores para comer caqui
E principalmente para observá-la
Ela,a primeira que fez o seu coração bater em um ritmo diferente

A família da rapariga era alegre e unida
Estavam sempre a cantar e dançar
Aquele clima o fazia suspirar e desejar,quase susurrando,ter nascido ali,entre aquelas pessoas
Algumas noites,de mansinho,ele fugia para lá e ficava a dançar com a menina

Ele costumava engraxar os sapatos do pai da garota
Era bem-vindo naquele lar
O chamavam de o menino do mato,porque vivia a correr por entre as matas

João, um dia, percebeu que ela não era aquela com quem sonhava
mas não conseguia esquecer o som daquelas festas e nem dos momentos sublimes que passara ao seu lado

Naquela casa,era como se tudo lhe fosse familiar
Ele não queria mais ser filho dos seus pais
Diante da indiferença afetiva de sua casa
Era na música que o garoto se encontrava

No começo de cada ano,sua mãe levava os meninos para tirar retratos de família na cidade
Naquela fotografia em que parecia tão próximo da mãe,uma distância enorme era encoberta
Afinal,ele não queria ser apenas mais um menino criado por ela

Desejando fazer o tempo passar depressa,o garoto corria até que suas pernas reclamassem de cansaço
E então,ele ficava ali,deitado,a olhar o céu,respirando aquele ar forte e gelado da mata

O menino do mato era intenso demais para o vazio daquele lar onde o seu único amigo era o irmão Lucas
Era com ele que ficava pelas madrugadas,de binóculo,observando as estrelas no telhado e contando histórias da sua imaginação
Ele precisava espairecer

Foi de um encontro súbito com um homem,que nadava num rio próximo,que a sua trajetória mudou
O músico da cidade introduziu o garoto,de cabelos crescidos,em sua orquestra
A mãe de João descobre que ele foi morar longe
Mas,agora,o tal maestro era como um pai para o jovem

Um dia,o rapaz ficou a observar uma ópera,após um ensaio
Uma bela moça dançava no palco,usando um vestido branco, cheio de rendas e uma flor no cabelo
Ele se lembrava de um dos dias em que se encontrava no chão da mata, entre sons e folhas,tocando a sua flauta e olhando o céu
Fora em uma daquelas pétalas de flor que ele voara,respirando o ar puro e gelado da mata,imaginando o embalo daquele som e das saias rendadas a girar

Ainda não sabia, ao certo, a causa da frieza daquela mãe triste para com ele
Mas a vizinhança comentava que o garoto não havia nascido da barriga dela
E foi perto da natureza e de suas melodias,que João contou a sua história
Deitado por sobre o cheiro fresco da terra úmida,no meio de sementes e de pássaros,ele descobrira o seu caminho

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A atriz


A moça de cabelos longos e dourados quer ser o impossível
Estar presente em todas as épocas
Voltar a ser criança

Ela quer poder ser triste e alegre ao mesmo tempo
Viajar entre tempos
Ser uma revolucionária
Ana,Joana,Luíza e Helena

E desejando passear por todos os poemas
Critica mundo
É um pouco a Beatriz da música do Chico
Criando mistério e afeição
Desfazendo amarras e preconceitos
Transmitindo a emoção

Ela é a mulher criticada
A jovem desiludida
A menina feliz
O personagem que ainda não existe
A atriz

domingo, 7 de dezembro de 2008

Indagações de uma mulher


Helena não aceita ser rotulada
Símbolos são para ela,às vezes, como cárceres
Para que se basear neles como um norte de ação?
Por que atribuir tanta importância para tais designações?

Tudo isso foi inventado
E não nos questionamos sobre até que ponto expressam a verdade
Por qual motivo permitirei que me convençam a agarrar-me a um número, se eu ainda me sinto jovem?Indaga a mulher
Por que assumirei a culpa que atribuem à mulher,se o mundo também é o culpado?
Por que me sentirei um fracasso,se o que tenho, para mim, é símbolo de sucesso?

O ser é o que move Helena
Suas aspirações e motivações
Não interessa para ela de que nome a chamem
Postulados são supérfluos

Uma pessoa não pode ser letra
Número,cálculo,rótulo e nem exatidão
Mas um ser humano
O fluxo de vida que alimenta