domingo, 14 de dezembro de 2008

Entre sons e folhas


Voando sobre uma pétala de flor
O garoto filosofava a vida
E enquanto toda a casa se entretia
E todos aqueles conflitos aconteciam ao seu redor
O garoto João vivia através do som de sua flauta,que comprara com seus próprios trocados,em uma ida à cidade
E era assim que ele se comunicava com os pássaros

Procurando sentidos,o garoto subia nas árvores para comer caqui
E principalmente para observá-la
Ela,a primeira que fez o seu coração bater em um ritmo diferente

A família da rapariga era alegre e unida
Estavam sempre a cantar e dançar
Aquele clima o fazia suspirar e desejar,quase susurrando,ter nascido ali,entre aquelas pessoas
Algumas noites,de mansinho,ele fugia para lá e ficava a dançar com a menina

Ele costumava engraxar os sapatos do pai da garota
Era bem-vindo naquele lar
O chamavam de o menino do mato,porque vivia a correr por entre as matas

João, um dia, percebeu que ela não era aquela com quem sonhava
mas não conseguia esquecer o som daquelas festas e nem dos momentos sublimes que passara ao seu lado

Naquela casa,era como se tudo lhe fosse familiar
Ele não queria mais ser filho dos seus pais
Diante da indiferença afetiva de sua casa
Era na música que o garoto se encontrava

No começo de cada ano,sua mãe levava os meninos para tirar retratos de família na cidade
Naquela fotografia em que parecia tão próximo da mãe,uma distância enorme era encoberta
Afinal,ele não queria ser apenas mais um menino criado por ela

Desejando fazer o tempo passar depressa,o garoto corria até que suas pernas reclamassem de cansaço
E então,ele ficava ali,deitado,a olhar o céu,respirando aquele ar forte e gelado da mata

O menino do mato era intenso demais para o vazio daquele lar onde o seu único amigo era o irmão Lucas
Era com ele que ficava pelas madrugadas,de binóculo,observando as estrelas no telhado e contando histórias da sua imaginação
Ele precisava espairecer

Foi de um encontro súbito com um homem,que nadava num rio próximo,que a sua trajetória mudou
O músico da cidade introduziu o garoto,de cabelos crescidos,em sua orquestra
A mãe de João descobre que ele foi morar longe
Mas,agora,o tal maestro era como um pai para o jovem

Um dia,o rapaz ficou a observar uma ópera,após um ensaio
Uma bela moça dançava no palco,usando um vestido branco, cheio de rendas e uma flor no cabelo
Ele se lembrava de um dos dias em que se encontrava no chão da mata, entre sons e folhas,tocando a sua flauta e olhando o céu
Fora em uma daquelas pétalas de flor que ele voara,respirando o ar puro e gelado da mata,imaginando o embalo daquele som e das saias rendadas a girar

Ainda não sabia, ao certo, a causa da frieza daquela mãe triste para com ele
Mas a vizinhança comentava que o garoto não havia nascido da barriga dela
E foi perto da natureza e de suas melodias,que João contou a sua história
Deitado por sobre o cheiro fresco da terra úmida,no meio de sementes e de pássaros,ele descobrira o seu caminho

Um comentário:

Anônimo disse...

Intensidade, comovência e realização, sua poema lírico de um joão do mato, que se realiza com a melodia musical. Alguns dizem que a audição é o mais importante sentido, sem a música não há emoção condizente
adorei, bjoss